“Calam-se as cordas. A música sabia o que eu sinto” – Jorge Luís Borges, 1981( La cifra )
Silêncio, estranheza, perdas várias e a realidade da morte impuseram-se como uma ameaça à desobediência, atiçando também os nossos fantasmas internos. Pânico e negação surgiram como reação ao que nos descarna a evidência da fragilidade e o controlo que vamos erguendo contra ela. A confiança básica assim como a nossa extraordinária capacidade criativa de adaptação e de esperança, foram postas à prova máxima.
O trauma coletivo acordou o pesadelo de traumas individuais. E o sofrimento foi escoando para a queixa, para o sintoma mais ou menos silencioso.
Mas desta esmagadora incerteza, do retraimento e apesar do confinamento do corpo foi fluindo a certeza de que podemos sentir. Como uma saída possível, simples e complexa. Surgiu um outro tempo para nomear o que se sente e dar-lhe um significado protetor da vida. Daí nasce pensamento. Percebemos que nos podemos fortalecer assim. O medo e a “coisa racional” terão que aproveitar aqui um lugar de transformação, fazendo a emergência e o desconfinamento de soluções que precisamos, com cuidado e atenção, todos os dias de encontrar.