As esplanadas não se confinam, antes se expandem
Tendencialmente, atropelamos o “fora de nós”, impondo-lhe o que queremos pensar e sentir. Nestes últimos meses ocorreu o inverso: fomos atropelados pela realidade de um “estranho ameaçador”. Tivemos que lidar com mudanças abruptas, impostas pelo meio.
Na pandemia, é o medo “quem mais ordena”, tornando os problemas, aparentemente, mais infinitos e insuperáveis. Assim, procuramos soluções omnipotentes que nos atraem e nos oferecem a sensação de nos proteger. “Vamos ficar todos bem!”. Ou, então, deambulamos pelo cataclismo que advém do mergulhar numa amargura pessimista.
A arte está em integrar estas duas posições clivadas, em integrar este desamparo trazido pela insegurança e os raios de esperança e objetividade que nos vão, timidamente, iluminando.
A ‘chave’ está em suplantar os propalados destinos destrutivos, como a crise de negação maníaca, fazendo prevalecer percursos criativos que, por exemplo, têm feito invadir o nosso espaço público de esplanadas e jardins que se enchem de piqueniques e explosões de alegria de quem pode, finalmente, “com-viver”, com as devidas precauções.
De repente, o coronavírus relembrou-nos que partilhamos o mesmo planeta, que somos seres em interação constante, e que o egocentrismo estéril que nos leva a “ter que aprender” a ser empático não é matéria para a academia, mas sim para a Vida: “Vamos todos fazer por ficar bem!”
Talvez o outono venha acompanhado da tranquila sabedoria, da esperança consistente e, quiçá, trar-nos-á a certeza de que saberemos lidar com o que a vida nos vai apresentando…