Ana Hatherly (1929 – 2015), poetisa maior, escreveu um dia:
O pequeno gesto de um poema
Pode abrir uma perspetiva infinita?
Quantas vezes será preciso
Bater com a cabeça
para vislumbrar a graça original?
Tudo o que podemos não podemos
Tudo o que fazemos não o fazemos sós
A palavra é um duro muro:
não se move a suplicantes rogos
O poema isola o poeta
Afirma-se à margem de si próprio
(Ana Hatherly. O Pavão Negro. Assirio & Alvim. 2003)
Nesta fase de desconfinamento e de escolhas relacionadas com o necessário regresso a uma “normalidade possível”, é fundamental que todos os portugueses tenham em conta, como Ana Hatherly tão poeticamente exprimiu, “que tudo o que fazemos não o fazemos sós”.
Ou seja, as várias escolhas tomadas neste momento pelos portugueses, se não forem efetuadas de modo solidário, podem ter consequências muito negativas na evolução da pandemia em Portugal.
E voltando a Ana Hatherly: “Quantas vezes será preciso bater com a cabeça para vislumbrar a graça original?”