“Falam-vos muito de educação, mas uma bela e sagrada memória, guardada desde a infância, é talvez a melhor educação. Se uma pessoa acumular muitas recordações dessas nos primeiros anos, será salva para o resto da vida. Mesmo que haja apenas uma única lembrança boa no nosso coração, pode um dia servir para que nos salvemos.” Os Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski, Editorial Presença, II Volume, 1ª Edição
Para além de tudo o que esta pandemia está a ser, também estará, certamente, a ser para muitos um tempo em que pais e filhos se veem mais recolhidos, juntos e juntos, e naturalmente conversam e brincam e descansam e inventam, inventam, inventam, até inventarem o próprio pão que juntos amassam e cozem e comem numa redescoberta da prodigiosa capacidade de transformação que é a nossa. E é assim que este tempo de pandemia que vivemos, ferida tão funda, pode afinal ser também o tempo de fazer uma bela e sagrada memória de infância, memória da casa primordial.
Mas se as recordações podem ser belas, também podem ser sombrias, negras, permanentes, quando o esquecimento e a indiferença deixam marcam no nosso corpo e no dos outros.