Aquilo a que nos últimos dois séculos chamámos de pandemia já foi chamado de peste. Para alguns, estes são tempos de um novo tipo de peste, para outros esta peste não existe. Embora os nomes mudem, os sentimentos mantêm-se. Estes sentimentos têm várias faces: o medo e a descrença. O medo é produto do desconhecido ou do desconhecimento. A descrença é um fenómeno que importa compreender melhor, mas que também está ligado ao medo.
Na Idade Média não possuíamos a informação sobre as doenças que hoje possuímos, nem a maioria da população em geral sabia ler nem escrever. Se tanto mudou, nos últimos séculos, no campo da ciência e da sociedade, porque continuamos a precisar de páginas de projetos, conferências de imprensa, artigos de imprensa e reportagens que nos assegurem que dada informação é certa ou errada? A resposta para uma pergunta tão complexa talvez tenha uma resposta simples.
Uma pandemia muda, de forma radical, as nossas rotinas do quotidiano. Para muitos de nós tal é difícil de aceitar, mas percebemos lentamente que mudar é preciso. Para muitos outros, o impacto da mudança é tão forte que é mais fácil não acreditar. Por outro lado, mesmo para muitos dos que entenderam que a mudança é necessária, a demora em tudo regressar ao normal levou-os a aceitar a descrença como a forma mais fácil de lidar com a mudança.
A exemplo das últimas duas semanas, os infetados por coronavírus em Portugal continuam em média na casa dos 200 por dia, e hoje não foi exceção, com 255. Em termos gerais os casos ativos continuam a baixar.
Novidade é que, apesar do país continuar em “situação de alerta”, toda a região de Lisboa passa a "contingência", incluindo as 19 freguesias que até agora estavam em situação de calamidade.
Outra novidade, a entrar em vigor já no sábado, são mais voos regulares de e para Portugal e novas regras para passageiros, com o objetivo de se aproximar de mais normalidade em setembro.
Vindo do Conselho de Ministros, igualmente, é a possibilidade de bares e discotecas, encerrados desde março, poderem funcionar com regras de cafés e pastelarias, até às 20h. Isto significa que poderão oferecer bebidas e alimentação ligeira. Estes estabelecimentos poderão usar espaço exterior (se tiverem) como esplanada e ocupar a pista de dança (se existir) com mesas, respeitando as normas de distanciamento social decretadas pela Direção-Geral da Saúde.
A comunicação oficial das autoridades de saúde está cada vez mais focada no futuro ou em esclarecer dúvidas, pois não há grandes novidades estratégicas para o imediato, nem grandes evoluções da pandemia em Portugal. Hoje houve mais 203 casos e um surto a chamar a atenção, em Tomar, com origem numa fábrica, que regista até ao momento 71 casos positivos. Os contactos destes casos têm sido alvo de inquérito epidemiológico.
Agora que as férias se aproximam para a maioria dos portugueses, a DGS refere que antes de se efetuar uma viagem se deverá informar sobre requisitos da viagem, seja em termos de utilização de equipamentos de proteção individual ou registo de deslocação. As regras que estiveram em vigor durante a Liga de Futebol e que resultaram vão aplicar-se às competições em falta: Final da Taca de Portugal e fase final da Liga dos Campeões.
Obviamente o tema vacina é sempre assunto, e por isso foi esclarecido que, em função da estratégia das populações alvo a cobrir, dos timings em que a vacina vai chegar, em função do desenvolvimento, e quantidades disponíveis determinará escolha da(s) vacina(s).
Tal como na passada semana, também esta começa bem em termos de números de novas infeções por coronavírus em Portugal. Depois dos 135 casos de ontem, apenas 111 hoje. E como este é o menor número diário desde 11 de maio, a esperança que amanhã se fique por esta grandeza é positiva.
Após o “milagre” inicial no controlo da pandemia em Portugal veio o “purgatório” dos números que não baixavam. Ainda não é o “paraíso” que todos desejam, mas sabe sempre bem reconhecimento, como agora aconteceu com a ONU a elogiar cinco municípios portugueses pelas suas políticas na luta contra a Covid-19 e os seus efeitos.
Na Madeira vai passar a ser obrigatório o uso de máscara em qualquer espaço público, e Madrid decreta o mesmo, apesar de ser quase impossível ver alguém nas ruas da capital espanhola sem máscara.
Nos EUA iniciaram-se 30 mil ensaios em voluntários para testar a vacina experimental da Moderna, no mesmo dia em que Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e doenças infectocontagiosas, alerta que alguns estados se aproximam do pico (Florida, Califórnia, Texas e Arizona), mas outros ainda estão em fase de crescimento de casos. Quando no pais já se passou dos 151 mil mortos e 4,4 milhões de infetados, não é o cenário mais animador.
Há uma tendência decrescente no número de casos nas regiões mais afetadas pertencentes à área metropolitana de Lisboa, pelo que as 19 freguesias neste momento em situação de calamidade deverão passar para o estado de contingência, o que está em vigor nos restantes municípios da Grande Lisboa. O Rt médio (19 a 23 julho) foi de 0,94. O número de novos casos a cada geração está numa trajetória de decréscimo, e hoje foram apenas 135.
A situação provocada pela Covid-19 colocou em evidência a falta de recursos humanos e materiais no sistema de saúde nacional. Está a ser realizado trabalho no âmbito da capacitação do mesmo. Uma vertente do plano de inverno é a capacidade do rápido diagnóstico e sinalização de contactos próximos.
A evolução da pandemia nos diversos países afetados é diferente, tendo em conta o contexto. A mensagem mais importante é a de que até haver vacina ou tratamento eficaz não vai ser possível eliminar a doença. A própria Organização Mundial da Saúde diz que a Covid-19 é a pior emergência global de saúde que já enfrentou.